segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

vicio

 

Eu tô tentando largar o cigarro, eu tô tentando remar meu barco, eu tô tentando armar um barraco, eu tô tentando não cair no buraco. Eu tô tentando tirar o atraso, eu tô tentando te dar um abraço, eu tô penando prá driblar o fracasso, eu tô brigando prá enfrentar o cansaço. Eu tô tentando ser brasileiro, eu tô tentando saber o que é isso, eu tô tentando ficar com Deus, eu tô tentando que ele fique comigo. Eu tô fincando meus pés no chão, eu tô tentando ganhar um milhão, eu tô tentando ter mais cunhão, eu tô treinando prá ser campeão. Eu tô tentando entrar em forma, eu tô tentando enganar a morte, eu tô tentando ser atuante, eu tô tentando ser boa amante. Eu tô tentando criar meu filho, eu tô tentando fazer meu filme, eu tô chutando prá marcar um gol, eu tô vivendo de Rock'n Roll!



Eu tô tentando ser feliz, eu tô tentando te fazer feliz!
 

esconde...,

 leva o meu cheiro para a tua casa. esconde, esconde dentro da gaveta castanha que tens no teu quarto. não a abres, deixa o cheiro usufruir. sentir? gosto particularmente de sentir aquilo que escrevo, por mais desinteressante que seja, adoro. as nuvens estão escuras como os teus olhos castanhos. o sol tem medo de aparecer como eu. o dia está super molhado, faz-me lembrar as tuas lágrimas quando caíram pela primeira vez. a noite será fria e chuvosa, esconder-me-ei dentro dos meus lençóis verdes. vês? vês a falta que tu me fazes? dá-me um dia recheado do teu cheiro. de ti. do teu perfume. esconde-me sob as tuas asas, e cobre-me com as tuas mãos. deixa-me poder voar contigo acima das tempestades. ensinaste-me a não ter medo. leva-me contigo, procura um novo destino para nós, por favor.

me, you and my medication.

Eu tenho cinco dedos em cada mão para cada erro que já cometi. Por que minha língua está amarrada à bobagens . Bobagens que digo quando perco o controle, e eu vivo saindo do eixo, você pode tentar fazer tudo bonito, pegar minhas roupas sujas, e se você nunca me entender, você não vai conhecer o acidente de trem que eu sou. Saindo dos trilhos, colidindo, machucando, rasgando, despedaçando tudo o que vejo pela frente.

Nós todos somos viciados em algo que leva embora a nossa dor. Eu, você e minhas drogas! O amor é apenas uma criação química, será isso permanente? Sensação sintética.

sábado, 6 de novembro de 2010

Minha mãe deveria me prender em casa

Eu olho pra sua tatuagem e pro tamanho do seu braço e pros calos da sua mão e acho que vai dar tudo certo. Me encho de esperança e nada. Vem você e me trata tão bem. Estraga tudo. Mania de ser bom moço, coisa chata. Eu nunca mais quero ouvir que você só tem olhos pra mim, ok? E nem o quanto você é bom filho. Muito menos o quanto você ama crianças. E trate de parar com essa mania horrível de largar seus amigos quando eu ligo. Colabora, pô. Tá tão fácil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder. E lá vem ele dizer que meu cabelo sujo tem cheiro bom. E que já que eu não liguei e não atendi, ele foi dormir. E que segurar minha mão já basta. E que ele quer conhecer minha mãe. E que viajar sem mim é um final de semana nulo. E que tudo bem se eu só quiser ficar lendo e não abrir a boca. Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserável. E tirar de mim a única coisa que sei fazer direito nessa vida que é sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode. Não dá, assim não dá. Deveria ter cadeia pra esse tipo de elemento daninho. Pior é que vicia. Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada. Veja se pode. Anos nos servindo de capacho, feliz da vida, e aí chega um desavisado com a coxa mais incrível do país e muda tudo. Até assoviando eu tô agora. Que desgraça. Ontem quase, quase, quase ele me tratou mal. Foi por muito pouco. Eu senti que a coisa tava vindo. Cruzei os dedos. Cheguei a implorar ao acaso. Vai, meu filho. Só um pouquinho. Me xinga, vai. Me dá uma apertada mais forte no braço. Fala de outra mulher. Atende algum amigo retardado bem na hora que eu tava falando dos meus medos. Manda eu calar a boca. Sei lá. Faz alguma coisa homem! E era piada. Era piadinha. Ele fez que tava bravo. E acabou. Já veio com o papo chato de que me ama e começou a melação de novo. Eita homem pra me beijar. Coisa chata. Minha mãe deveria me prender em casa, me proteger, sei lá. Onde já se viu andar com um homem desses. O homem me busca todas as vezes, me espera na porta, abre a porta do carro. Isso quando não me suspende no ar e fala 456 elogios em menos de cinco segundos. Pra piorar, ele ainda tem o pior dos defeitos da humanidade: ele esqueceu a ex namorada. Depois de trinta anos me relacionando só com homens obcecados por amores antigos, agora me aparece um obcecado por mim que nem lembra direito o nome da ex. Fala se tão de sacanagem comigo ou não? Como é que eu vou sofrer numa situação dessas? Como? Me diz? Durmo que é uma maravilha. A pele está incrível. A fome voltou. A vida tá de uma chatice ímpar. Alguém pode, por favor, me ajudar? Existe terapia pra tentar ser infeliz? Outro dia até me belisquei pra sofrer um pouquinho. Mas o desgraçado correu pra assoprar e dar beijinho.

domingo, 31 de outubro de 2010

História escrita a lápis



Interrompida, caiu uma vírgula por aí.
Minha oração nunca será ouvida. Me perdi no meio dos sentidos. História escrita a lápis, lápis-borracha para tudo ser mais prático. Escrita de qualquer jeito, torta, em linhas invisíveis. Com um início de perder o fôlego, mas com um eterno três pontinhos num final que nem existe. Os três pontinhos são o que me matam, ponto final seria a dureza clara e o fim da história, três pontinhos são o que me matam. Uma história pra adultos, escrita por crianças. Você sem saber viver de tantas vidas por aí, eu sem conseguir viver porque virei sua hospedeira.
Quis sugar sua vida perdida, e me perdi.
Incapaz de me sentir por medo de ser inteira, saio sentindo e sendo os outros. Quis ser você inteiro, morar aí dentro, bombear e mandar nas suas veias. Mas você é tão livre, tão acima do chão. Tão acima de minha cabeça. Da minha cabeça que está aos seus pés. Sinto o arrepio frio nas costas da bandeja de vidro que eu trouxe pra você. Nela estou deitada, entregue. Mas tudo isso pode se quebrar a qualquer momento. A reconstrução eterna dos meus sonhos que já nascem fragmentados para que eu possa engolir tudo aos poucos. Mas de nada adianta, estou eu aqui de novo, mas mais uma vez tão única e surpresa, engasgada até onde se pode sentir falta de ar. Engasgada de você ir embora, engasgada de você voltar. Engasgada de você sempre sorrir. Você não passou pelos meus buracos e eu não consegui te entender no quentinho seguro do meu ventre. Você travou todas as minhas entradas, você me incha por dentro e eu nem sei se vale a pena explodir porque você é surdo e cego. De que vale eu deixar de existir se você não me percebe? Sigo inchada, sigo cheia de coisas para cuspir em você, sigo pontuada por esses batimentos cardíacos que descem quando te vejo. Poesia sem rima porque não somos bregas e a vida sem sentidos e sem encaixe é a loucura que une nossas doenças. Estrofes com métrica, porque sabemos exatamente o que queremos, apenas não rimamos para que não exista cumplicidade. Uma história começada como a necessidade obscena e idiota de coçar o saco. E terminada pela saciedade obscena e idiota de o saco já ter sido coçado. Tudo tão simples como expelir algo fisiológico. Narração de sujeito oculto para mim: meus sentimentos escondidos até o fim. Uma redação com margem, tamanho e estilo impostos para você. Um diário sem limites para mim.
E você continua indo embora, e eu continuo ficando, vendo você levar partes de mim que antes eu nem sentia falta. E você continua escrevendo sua história pulando linhas, errando palavras, esquecendo os títulos. E eu continuo escrevendo seu nome com letras cheias, para tentar preencher você de alguma maneira. Pra tentar deixar tangível a sua existência.

Apenas Coragem

Se você me ligasse a gente poderia ter uma conversa séria a respeito da solidão e do tédio do mundo e resolver ser feliz pra sempre. A gente poderia resolver isso e depois resolver que o mundo tem suas limitações e depois resolver que não tem limitação coisa nenhuma. A gente poderia mudar de opinião juntos e tornar a vida menos solitária e tediosa.
Olha, é simples, são oito números e uma única chance de conhecer uma mulher super bacana. Que, sim, tem chulé às vezes, tem bafo às vezes, tem ataques de histeria, ciúme e infantilidade às vezes. tá bom, é mais do que às vezes, mas se você me ocupar com bom papo e carinho, eu juro que esqueço um pouco meu lado que não sabe se relacionar.



Porque antes de apagar, na última caixinha do fundo da última cabeça que ainda faz a última força, fica a voz dele "eu só queria te ajudar". 


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

apenas uma flor

Olhei à minha volta. Não havia testemunhas do meu momento de fraqueza. Quando pus a mão no chão para me levantar, reparei que tinha uma flor junto de mim. Olhei de novo à minha volta. Ninguém. Apenas silencio. Peguei na flor. Levantei-me…Senti o teu calor. A tua mão na minha barriga a puxar-me para ti. As minhas costas contra o teu peito. Virei-me e olhei-te nos olhos. Num segundo vi o meu mundo no teu olhar e a minha vida no teu sorriso lindo. Abraçaste-me e deste-me um beijo na testa. Empurraste-me carinhosamente contra a parede de uma casa vazia e sem vida que assistia a tudo. Agarraste as minhas mãos, olhaste e viste-me ali completamente tua…

Pixaram o muro de uma escola ...






Pixaram as paredes com letras garrafais na imensidão de um muro negro onde agora podia ler-se: "Eu amo você", como puderam píxar o muro da escola? Pixaram em letras cor de sangue, letras trêmulas e a tinta ainda estava fresca, escorria. Pixaram o muro pela manhã e o muro agora parecia sangrar. Pixaram o muro pouco antes do zelador chegar e ele pode ouvir passos de alguém que corria velosmente ou seriam mais pessoas? O zelador sonolento como estava só pode dizer: -pixaram, pixaram!
Sangraram o muro negro.Feriram o diretor com tais palavras, ele não sabia amar. Iludiram meninas que por ali passavam suspirango, agora.Ofenderam os meninos até então certos do domínio. Escandalizaram mães que criaram sermões intermináveis de onde o mundo iria parar.Chocaram enfim, a todos, e de todos ninguém sabe pra quem foi gritado em letras o: "Eu amo você."
Pixaram, rasgaram, feriram, gravaram, sangraram, um muro, um muro negro, com letras incertas. Correram para longe do muro que sangrava. Pixaram o muro e muitos leram o que lá foi escrito e muitos desejaram tais palavras, mas aquelas palavras a nenhum deles foram ditas.


'' ..Me alimento de vento. E desmaio, jogada ao relento.
Tento, tanto, levanto.
Levanto e me espanto.
Sumiu a parede que me servia de apoio.
Eu bem a deixei por aquele canto... ''

Breve recado

Abre essa porta! Que direito você tem de me privar desse castelo que eu construí pra te guardar de todo mal? Desse universo que eu desenhei pra nós, pra nós? Abre essa porta, não se faz de morto. Diz o que é que foi! Já que eu larguei tudo pra ti; já que eu cerquei tudo ao redor. Abre essa porta, vai, por favor?

Cala essa boca, que isso é coisa pouca perto do que passei. Eu que lavei os seus lençóis sujos de tantas outras paixões, e ignorei as outras muitas, muitas.

Vai, depois liga. Diz pra sua irmã passar que eu vou mandar tudo que é seu que tem aqui. Tudo que eu não quero guardar. Que é pra esquecer de uma só vez que este castelo só me prendeu, viu? Mas o universo hoje se expandiu! E aqui de dentro a porta se abriu.


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sobre o amar




Enquanto ela se arruma, o mundo para. O mundo dela, onde só existe o homem que aguarda. Nessa casa sem vínculos, vazio perfeito para encontros clandestinos. Ela tenta fazer, daquele quase nada, algo acolhedor. Quer oferecer, alimentar, provar o aconchego que crê que ele mereça. Porque ele é seu homem. Só seu, durante o tempo em que estiver naquela casa. Lar sem lembranças nem porta-retratos. Ilusão que ela finge não notar, e durará apenas o tempo livre daquele que espera. Já que ele não é dela e ela não é dele- embora se prepara como se fosse. Quer que o vazio esteja lindo, sem saber que lindo seria vê-la assim, acreditando num amor-para-sempre, que termina antes do anoitecer. Não é ingênua e nem cínica, é uma mulher; e gosta desse jogo, mesmo sabendo que, nele, nunca há vencedoras. Perdedora ou perdida, sente-se excitada. Quase aborrecida, por ele estar atrasado. Lembra, porém, de mais alguns detalhes que faltam no paraíso que quer ofertar. Circula pela casa, toma um vinho, escreve um poema. Vai tentar convencê-lo de quanto ela é perfeita. Ela escreve versos. Ela é livre, mas sabe cozinhar. Escuta um barulho, a seu corpo treme inteiro - ainda não é ele. Tenta ficar calma, mas seu coração, agora, não bate, estala, como um delicado cristal que, num brinde, trinca. Serve-se mais uma taça de vinho. Sente uma certa vontade de chorar. Tenta se distrair. Pode brincar um pouco enquanto ele não chega? Decide que sim, imaginando tudo que gostaria de fazer com ele. Algumas coisas que nunca fez, inclusive. Mas ele demora demais, e ela prefere não mexer onde não deve. O primeiro prazer daquela tarde deverá ser com ele, por ele. Mesmo reconhecendo que, no quarto escuro de sua mente, faça o que quiser, com quem quiser. Ele não precisa saber disso. Nenhum homem precisa saber que é na imaginação que a mulher esconde o tal ponto G. Ri. Vê a hora, começa ficar realmente irritada. Mais uma taça de vinho e o seu coração de vidro estalará mais forte, talvez forte demais. Tornando-a mais intensa em sua poesia e menos preocupada com refeição que esfria. Que casa é essa, afinal? Decide macular o branco daquele local asséptico. O mundo, afinal, não é apenas o local que seu homem habita - homem que nem é tão seu. E tudo fica melhor quando está tudo bagunçado. Então, desarruma tudo.